quinta-feira, 28 de março de 2024

“Em” ou “No Recife/Nas Alagoas?”


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ONDE SE METEU A DROGA DO ESTAGIÁRIO?????


Enquanto escrevia minha tese de doutorado, me deparei com uma dúvida, porque sempre li e escutei as duas formas, mas nunca soube qual delas podia ser considerada gramaticalmente “correta”, sobretudo no registro formal. Afinal, o correto é dizer “em Recife” ou “no Recife”? O correto é dizer “em Alagoas” ou “nas Alagoas”? Quem vive nesses dois lugares já sabe a resposta, ou pelo menos sua resposta, mas perdoem este paulista ignorante que também deseja ajudar outros seres da mesma espécie, rs.

Estou escrevendo este texto porque há várias páginas com a mesma resposta, e outras com apenas uma das duas opções (“em” ou “no/nas”) corretas, e também quero dar minha contribuição pra quem vê mais esta humilde página do que outros sites. Os nativos, obviamente, sempre vão usar as formas “no Recife” e “nas Alagoas”, em concordância com o gênero e o número de cada substantivo. Porém, ao contrário de topônimos como “no Rio de Janeiro”, que se fixaram com o artigo definido (embora em francês se diga “à Rio”, e não “au Rio”), a norma culta manda dizer e escrever “em Recife” e “em Alagoas”, sem artigo. Lembrando que “no = em + o”, e “nas = em + as”, pra quem não manja de gramática.

Na verdade, num sentido mais amplo da linguística e da comunicação, ambas as formas estão corretas, embora no que chamamos de “registros” diferentes. Isto é, na linguagem coloquial, incluindo a escrita informal em redes sociais, é plenamente aceitável dizer “no Recife” e “nas Alagoas”, não só conforme o uso que já é consagrado nessas duas regiões, mas também na concordância natural com os substantivos comuns “recife” e “lagoas” (ao qual se incorporou um “a” protético durante a história). Não é errado, mas se você disser “em Recife” ou “em Alagoas” pra um recifense ou um alagoano, ele vai achar muito estranho, rs.

Contudo, atenção pra quem trabalha com escrita formal, quem vai fazer concurso ou qualquer tipo de prova ou quem atua com a fala em público! No registro estritamente escrito, padronizado (como teses e artigos acadêmicos), jornalístico etc., a única forma aceita é “em Recife” e “em Alagoas”, pois escrever “no Recife” e “nas Alagoas” nesse contexto soa tão errado como “nós tava indo” ou “pra mim ver”. Há várias outras formulações (pra mim, pessoalmente, não exatamente essas duas que citei...) que são totalmente aceitáveis num registro informal, coloquial ou descontraído, não necessariamente familiar, mesmo em certos suportes escritos, mas que se deve evitar em contextos mais rigorosos.

É isso, e não deixe de visitar (o) Recife e (as) Alagoas!



terça-feira, 26 de março de 2024

Checo básico: alfabeto e frases


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Eu estava jogando fora uns papéis em meu quarto, e vi que tinha separado essas folhas de um caderno usado, cujos restos mandei pro lixo, com as letras do alfabeto checo (que inclui, obviamente, as consoantes “acentuadas”), sua versão manuscrita e algumas frases básicas. Essas frases, obviamente, traduzi, mas todo o resto do caderno, que inclusive trazia ainda alguns adesivos com datas nacionais checas pra lembrar, estava em checo, sem tradução.

Eu comprei no fim de 2021 uma agenda e um caderno destinados ao auxílio do estudo do checo (como você vê, eu tinha largado um pouco, mas estava querendo voltar, rs), idealizados pelo casal Volha (belarussa) e Paterson (baiano) Franco, ambos dedicados aos estudos das letras eslavas no Brasil. Eu já conhecia a Volha há alguns anos nas redes sociais, pois ela era professora da escola Clube Eslavo (São Paulo) fundada por Snizhana Maznova e, como belarussa exilada, é uma das porta-vozes globais da Embaixada Popular de Belarus, que combate a ditadura terrorista e fantoche de Lukashenka, e uma das mulheres que nas redes sociais mais bate na tecla pra que os bananeiros (inclusive eu!) parem de usar as formas “Bielorrússia” e “bielorrusso”, rs.

Junto à empresa gráfica Aparência, Volha e Paterson idealizaram a linha Linguarte, focada em produzir materiais que auxiliem ou estimulem o estudo de línguas estrangeiros pelos brasileiros. Hoje eles incluíram inglês, francês e espanhol, mas começaram com russo, ucraniano, belarusso, checo (que não consta mais) e, se não me engano, polonês. Infelizmente, não consta nenhum idioma eslavo meridional, e em 2022 até me propus a colaborar pra criar uma versão búlgara, mas aquele foi um ano tão corrido que renunciei à iniciativa. Mesmo assim, comprei a versão em checo, pouco antes da Rússia invadir brutalmente a Ucrânia, e usei até onde pude, inclusive o caderno pautado, em que anotei resultados de pesquisas em arquivo e fiz exercícios de vários idiomas!

Pra desocupar espaço em minhas coisas, eu tinha guardado as folhas abaixo, mas num passo a mais decidi as digitalizar e compartilhar aqui, pra que outras pessoas também aproveitassem! Apenas nas frases básicas acrescentei os significados, e futuramente talvez eu também incorpore áudios com minha própria leitura do conteúdo (nome das letras do alfabeto e frases básicas).



á, dlouhé á, bé, cé, čé, dé, ďé, é, dlouhé é, ije (é s háčkem), ef, gé, há, chá, í (měkké í), dlouhé í (dlouhé měkké í), jé, ká, el, em, en, eň, ó, dlouhé ó, pé, kvé, er, eř, es, eš, té, ťé, ú, dlouhé ú (ú s čárkou), ů s kroužkem, vé (jednoduché vé), dvojité vé, iks, ý (ypsilon, krátké tvrdé í), dlouhé ý (dlouhé ypsilon, dlouhé tvrdé í), zet, žet

Não associei os nomes aos símbolos, você é inteligente pra adivinhar. Mas algumas dicas interessantes: “dlouhé” indica uma vogal longa, ou seja, com acento agudo; esse acento agudo também é chamado “čárka”; o circunflexo invertido que aparece sobre algumas consoantes se chama “háček”, e a única vogal sobre a qual ele aparece é o Ě; o nome do círculo que só aparece sobre um “u” longo se chama “kroužek”.


Pequeno acréscimo: eu estava vendo no domingo passado o vídeo de uma parada militar da Checoslováquia comunista, e percebi que numa parte da abertura, o comandante saúda os soldados com a frase Nazdar, soudruzi!, que pelo contexto pode ser interpretada como a equivalente à russa Zdrávstvuite, továrischi!, isto é, “Saudação, camaradas!”. Portanto, Nazdar! também pode ser traduzida como “Olá”, “Oi”, não só “Tchau”. Porém, é considerada mais antiquada do que Ahoj!, de longe mais usada entre jovens (tanto na chegada quanto na saída).



domingo, 24 de março de 2024

Daesh na Rússia: cobertura da Globo


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Não sei bem por que razão, mas decidi fazer mais uma publicação extra com vídeos de reportagem dos três principais jornais da TV Globo (canal aberto) sobre o atentado na casa de shows Crocus City Hall, em Krasnogorsk (Rússia), no dia 22 de março, com fins de documentação. A primeira notícia foi no Jornal Nacional do mesmo dia, pois quando o tiroteio aconteceu (20h de Moscou, 14h de Brasília), mesmo entre os russos exilados ou não a notícia ainda não tinha sido digerida após meia hora. Depois, o Jornal da Globo trouxe mais detalhes na madrugada, e no dia 23 (por ser sábado, não teve o Hora 1 e o Bom Dia Brasil), o Jornal Hoje (enfim) e o Jornal Nacional seguiram a cobertura.

Como as versões online são bem conhecidas, não me incomodei em citar as fontes, portanto, seguem as reportagens com as edições e os respectivos âncoras:



Renata Lo Prete, Jornal da Globo, madrugada de 23 de março de 2024


William Bonner, Jornal Nacional, 23 de março de 2024


Andréia Sadi, Jornal Hoje, mesmo dia


Rodrigo Bocardi, Jornal Nacional, mesmo dia

sábado, 23 de março de 2024

Putin sobre atentado em Krasnogorsk


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Como você viu ontem, o atentado à casa de shows Crocus City Hall, na cidade de Krasnogorsk, na província de Moscou, começou pouco depois das 14h no horário de Brasília. Hoje, finalmente o ditador Vladimir Putin finalmente lançou um discurso de mais de 5 minutos no site oficial do Kremlin, mas apenas às 15h 30min de Moscou, ou seja, às 9h 30min de Brasília. É asqueroso como ele fala em terrorismo internacional, mas sequer fala de uma possível participação do Daesh ou de outros grupos muçulmanos e ainda por cima culpa “a Ucrânia” sem qualquer prova. Seria medo de instigar os radicais já enquistados no território ou mesmo seus amiguinhos sunitas por ele plantados nos governos regionais, a começar pelo Don-Don Kadyrov? E isso que ele diz que ainda estão investigando o caso, como afirma isso tão seguramente??? E isso também depois do porta-voz Peskov dizer que estão praticamente em “estado de guerra” com Kyiv, e dessa capital, de Kharkiv e do sistema elétrico ucraniano sofrerem o pior ataque em meses...

Putin sequer se dirigiu ao local do ataque, embora autoridades já estivessem presentes poucas horas depois, pra começar os trabalhos de investigação. Seu vocabulário de caçador valentão e vingativo é só pra manter as aparências, os serviços de seguranças russos estão deteriorados: o que explica a multiplicação do ataque de drones ucranianos a centenas de quilômetros da fronteira, inclusive contra refinarias de petróleo, mostrando como o espaço aéreo da Rússia é uma peneira? Eu mesmo traduzi direto do russo, desta vez sem o uso do Google Tradutor, e como não tenho mais tesão pra legendar desde o fim do Pan-Eslavo Brasil, sinta-se à vontade pra o fazer, usando meu texto:


Estimados cidadãos da Rússia!

Dirijo-me a vocês por ocasião do cruento e bárbaro atentado terrorista cujas vítimas foram dezenas de pessoas pacíficas, sem qualquer inculpação: nossos concidadãos, inclusive crianças, adolescentes, mulheres. Os médicos estão lutando pela vida dos feridos, dos que se encontram em estado grave. Confio em que eles farão todo o possível e até mesmo o impossível para conservar a vida e a saúde de todos os feridos. Meus agradecimentos especiais às equipes de socorro e de aviação médica, aos combatentes dos batalhões especiais, aos bombeiros, aos socorristas que têm feito tudo para salvar a vida das pessoas, tirá-las do fogo, do epicentro do incêndio e da fumaça e evitar ainda mais perdas.

Não posso deixar de ressaltar a ajuda dos cidadãos simples que nos primeiros minutos após a tragédia não ficaram indiferentes e passivos e, ao lado dos médicos e dos trabalhadores dos serviços especiais, realizaram os primeiros socorros e levaram os feridos aos hospitais.

Daremos a ajuda necessária a todas as famílias em cuja vida recaiu uma terrível desgraça, aos feridos e atingidos. Expresso minhas profundas e sinceras condolências a todos os que perderam parentes e próximos. Todo o país, todo nosso povo está sofrendo com vocês. Estou decretando o 24 de março como dia de luto nacional.

Em Moscou e arredores, e em todas as regiões do país foram implementadas medidas adicionais de caráter antiterrorista e antidiversionista. Agora, o principal é não deixar os que estão por trás dessa cruenta matança cometerem um novo crime.

Com relação à investigação desse crime e aos resultados das ações operativas de investigação, podemos neste instante dizer o seguinte. Todos os quatro realizadores diretos do ato terrorista, todos os que atiraram e mataram pessoas, foram encontrados e presos. Eles estavam tentando se esconder e dirigindo-se à fronteira com a Ucrânia, onde, segundo dados preliminares, foi preparada para eles do lado ucraniano uma janela para passarem pela fronteira nacional. Ao todo foram presas 11 pessoas. O Serviço Federal de Segurança da Rússia [o FSB] e outros órgãos de manutenção da ordem estão trabalhando para descobrir e revelar toda a base de cúmplices dos terroristas: quem lhes forneceu transporte, indicou-lhes os caminhos para escapar da cena do crime e preparou os esconderijos para os criminosos, as armas e as munições.

Repito: os órgãos de investigação e de manutenção da ordem farão de tudo para estabelecer todos os detalhes do crime. Mas já está evidente que fomos confrontados não com um simples ato terrorista preparado minuciosa e cinicamente, mas com um preparado e organizado assassinato massivo de pessoas pacíficas e indefesas. Os criminosos foram exatamente matar a sangue frio e com alvo definido, atirar à queima-roupa em nossos cidadãos, nossas crianças. Como outrora os nazistas que realizavam represálias nos territórios ocupados, eles decidiram realizar uma punição exemplar, um ataque intimidatório cruento.

Todos os executores, organizadores e mandantes desse crime receberão a punição justa e imediata. Quem quer que tenham sido, quem quer que os tenha dirigido. Repito: vamos descobrir e punir quem está por trás dos terroristas, quem preparou essa atrocidade, esse golpe contra a Rússia e nosso povo.

Sabemos o que é a ameaça do terrorismo. Nisso contamos com a colaboração de todos os estados que partilham sinceramente de nossa dor e estão prontos para realmente, na prática, unir forças para combater o inimigo comum, o terrorismo internacional em todas as suas manifestações.

Apenas um destino indesejável espera pelos terroristas, assassinos e desumanos que não têm nem podem ter nacionalidade: a punição e a obscuridade. Eles não têm futuro. Agora nosso dever comum, de todos os camaradas que combatem no front e de todos os cidadãos do país, é estar juntos em uma só fileira. Tenho fé de que assim será, pois nada nem ninguém pode abalar nossa coesão e vontade, nossa decisão e coragem, a força do povo unido da Rússia. Ninguém conseguirá semear as sementes venenosas da discórdia, do pânico e da desordem em nossa sociedade multinacional.

Não é a primeira vez que a Rússia passa por provações terríveis, às vezes insuportáveis, mas sempre saímos ainda mais fortes. Também agora será assim.



sexta-feira, 22 de março de 2024

URGENTE: atentado em teatro russo


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/krasnogorsk
Revisado e aumentado no dia 23 seguinte



Como você já deve estar sabendo por diversas mídias brasileiras ou mesmo estrangeiras – já está passando no Jornal Nacional –, pouco depois das 20h no horário de Moscou (pouco depois das 14h no de Brasília), ao menos cinco homens armados lançaram coquetéis molotov e dispararam em direção a cerca de 6 mil espectadores que esperavam o início de um show da banda de rock Picnic (apesar do nome, ela foi fundada em 1978, em Leningrado, hoje São Petersburgo). Foi na casa de shows Crocus City Hall, localizada na cidade de Krasnogórsk, na província de Moscou, a 25 km da capital federal, e provocou uma correria imediata, desordem e o quase desabamento do teto do prédio.

Até eu escrever este texto, 62 pessoas já tinham morrido e mais de 145 tinham se ferido; na própria Wikipédia em russo, as atualizações são constantes, mas também estou assistindo à cobertura da TV Rain, sediada em Amsterdã, que está fazendo toda uma cobertura especial dedicada ao trágico dia na Rússia. Estão dizendo ser o maior atentado no país em 20 anos, mesmo que antes já houvesse, por exemplo, tomadas de reféns em teatros; mas acredito que a referência seja à tomada da escola de Beslan, na Ossétia do Norte, onde terroristas muçulmanos mantiveram mais de 1100 reféns de 1.º a 3 de setembro de 2004 e, após a intervenção atrapalhada dos militares, 333 pessoas morreram, entre elas 186 crianças. Ainda falta muito a se esclarecer, mas gostaria de trazer aqui algumas reflexões feitas pelos convidados e acrescentar outros dados de minha lavra. O cenário pode ser bem mais complexo do que parece.

Descontando os atentados em metrôs ou explosões isoladas, Vladimir Putin sempre foi reputado como inepto pra combater o terrorismo islâmico doméstico, sobretudo em se tratando de casos com reféns e em se levando em conta a demora pra agir e a indiferença com os frequentes números elevados de vítimas fatais. Não estou fazendo moralismo, estou trazendo fatos: seu desprezo pela vida humana foi magistralmente demonstrado durante o afundamento do submarino Kursk em 2000, quando mal tinha tomado posse após sua primeira eleição direta e deixou 118 marinheiros morrerem no mar ártico de Barents. Face ao despreparo da Rússia pra tal situação, a Noruega ofereceu ajuda no resgate, mas Putin se recusou a voltar das férias e rejeitou o apoio, e quando se deparou com a fúria das mães dos militares, as chamou de “prostitutas pagas pra atuarem como atrizes”.

Em 19 de março, reunindo-se com os altos responsáveis do FSB, o serviço de inteligência corroído por corrupção, despreparo e nepotismo e que não é nem a sombra do velho temido KGB, Putin aludiu a “alertas de atentado” por extremistas nos arredores de Moscou repassados por agentes dos EUA, mas os recusou como “chantagem escancarada”. De fato, no dia 7, a diplomacia americana e de outros países, incluindo os bálticos, emitiram um alerta pra que seus cidadãos evitassem aglomerações nas 48 horas seguintes, e depois as autoridades também conseguiram prevenir o atentado a uma sinagoga. Ironicamente, a porta-voz do Ministério do Exterior, Maria Zakhárova, horas depois do ataque em Krasnogorsk, disse que os EUA estavam se apressando em “desculpar” a Ucrânia, e que se tivessem informações, deviam as compartilhar o quanto antes. Vejam só...

De fato, o reflexo dos publicistas e políticos mais doentios foi culpar o “regime neonazista de Kyiv”, e o falhósofo Aleksandr Dugin, queridinho de alguns universiotários idiotas da Banânia, incitou a “descarregarem sobre a Ucrânia o poder de fogo existente em todo o armamento da Rússia”. Esse delírio não passa disso, um delírio, e a não hipótese deve ser jogada logo ao lixo. Porém, a esse respeito, outros fatos são interessantes: também hoje, 22 de março, o exército russo lançou o maior ataque à infraestrutura energética ucraniana em meses, curiosamente logo após a reeleição fake do genocida. Dmitri Peskóv, porta-voz do Kremlin, cometeu uma espécie de “lapso” ao dizer a um jornalista que a Rússia se encontrava “praticamente em estado de guerra” com a Ucrânia após dois anos de “operação militar especial” (jura?). Uma nova onda pós-eleitoral de mobilizações militares estaria sendo planejada pra reunir uns 300 mil combatentes, o que certamente causaria indignação geral na população. Enfim, o Estado russo está cada vez mais autoritário, repressivo e açambarcador.

A segunda hipótese aventada foi uma armação do próprio FSB por razões diversas, algo que além de estar dentro de suas capacidades, bate com suspeitas já levantadas em eventos passados e condizentes com o tratamento da população pelo Kremlin como material descartável. Voltemos de novo no tempo: na década de 1990, o calcanhar de Aquiles da unidade russa era o Cáucaso do Norte, pertencente ao país, que era todo um barril de pólvora, mas cujo epicentro era a Chechênia, que além de lutar pela independência, queria levar junto as atuais repúblicas da Inguchétia e do Daguestão. Estratégica, a região do Cáucaso foi duríssima pro Império Russo conquistar, e como sua metade Sul já estava perdida (com a independência da Armênia, Geórgia e Azerbaijão soviéticos), o resto deveria se manter. Além disso, o embrião do terrorismo islâmico internacional moderno já dava as caras no Cáucaso, e logo foi fixada na cabeça do russo médio a associação “checheno = terrorista”, sobretudo com os atentados já recorrentes na Rússia eslava e com a primeira guerra local perdida por Borís Iéltsin.

Putin jamais seria alguém na vida sem a segunda guerra da Chechênia. Até então desconhecido do grande público, ele foi escolhido primeiro-ministro pelo frágil presidente em 1999, sob a promessa de “caçar os terroristas até nos vasos sanitários”. Sua “solução” foi simplesmente meter o louco em Grózny, capital chechena, e a bombardear sem fazer muita distinção entre civis e combatentes. Isso faria escola na Ucrânia moderna... Inclusive, em setembro daquele ano, atentados em três cidades diferentes mataram mais de 300 pessoas em prédios residenciais, e embora a autoria fosse atribuída a jihadistas, houve muitas acusações, jamais comprovadas, de que o FSB podia os ter forjado como desculpa pra aquela ofensiva em larga escala. Mesmo assim, seu “pulso firme” o ajudou a ser eleito em primeiro turno pela primeira vez, em 2000. Somente um acordo com Ramzán Kadýrov, implantado como um ditador-fantoche ainda mais brutal, encerraria os combates anos depois. E pra variar, passado o tempo, Putin acusaria os EUA de terem fomentado o terrorismo no Cáucaso ao invés de ajudar a Rússia a combatê-lo...

Os próprios especialistas já ouvidos (sem ser o próprio governo ucraniano, claro) não acham provável um envolvimento do FSB, ainda mais do jeito que a coisa se passou e logo depois da eleição de fachada. Porém, o que se poderia esperar de uma instituição mais baseada na herança dos postos de pai pra filho do que no mérito, e que garantiu a Putin que sua invasão seria recebida festivamente na Ucrânia? Além disso, se indicou também que as poucas forças da ditadura estavam muito concentradas em vigiar e prender dissidentes políticos, especialmente os apoiadores do finado Navalny, e os falsos “extremistas” do chamado “movimento internacional LGBT”. Somando-se a atenção internacional totalmente voltada pra Ucrânia (e Gaza), a menor brecha poderia ser aproveitada. E pode ter sido.

Os EUA preveniram a Rússia de que o ataque poderia vir do Daesh, como prefiro chamar o “Estado Islâmico” (ou ISIS, ISIL), e de fato, nas últimas horas a matança foi reivindicada no grupo do Telegram (como deixam, meldels?) mais especificamente de um braço chamado “Daesh do Khorasan” ou “ISIS-K”, isto é, que atua no Afeganistão. O (Grande) Khorasan (aportuguesado de diversas formas) é um nome derivado da língua persa média, que ao longo da história designou várias porções de território em parte da Ásia Central. De cultura iraniana (ou seja, persa, curda e outras aparentadas), equivalia mais ou menos à antiga região da Pártia (Parthia) na era pré-islâmica. Hoje, recobre todo o Tajiquistão (um povo persa), a maior parte do Afeganistão (norte e centro), parte do leste do Irã (onde algumas províncias levam “Khorasan” no nome), mais da metade do Turcomenistão (leste e centro), o centro e o leste do Usbequistão e um pedacinho fronteiriço do Quirguistão. Alguns grupos de língua pashto reivindicam “Khorasan” como o verdadeiro nome do Afeganistão e como o espaço por excelência daquela língua.

Claro que às vezes a fiabilidade desse tipo de anúncio é a mesma do seu Madruga assumindo a culpa do Chaves por ter comido os churros da dona Florinda. Mas em se tratando do Afeganistão, e mesmo do Daesh em geral, muitos fios podem ser ligados que levem à referida brecha do FSB. Curiosamente, Talibã e Daesh se detestam, uma das razões sendo que o primeiro é nacionalista afegão, e o segundo é “internacionalista”, visa ao califado mundial. E quando terroristas se detestam, seu primeiro reflexo é se matarem mutuamente, o que é o caso do Daesh do Khorasan, que ainda atemoriza o Afeganistão, classificado nos últimos dias como “o país mais infeliz do mundo”. A Rússia reconhece ambos como organizações terroristas, mas o chanceler Sergéi Lavróv já deu passos de “normalização” desde 2021, participando de reuniões internacionais com os representantes de Cabul. Óbvio que o Daesh não gostou nada.

Mas não para por aí. Após a recusa do Ocidente em intervir na guerra civil da Síria, a Rússia também ajudou a combater o Daesh aí, mas ao custo de transformar o ditador Bashar al-Asad num boneco de Moscou e de submeter a população civil, sobretudo opositores, a bombardeios indiscriminados. Igualzinho em Grozny e em Mariúpol... Al-Asad também é amiguinho do Irã, cujo regime terrorista igualmente fornece armas pra Putin matar ucranianos. Óbvio igualmente que o sunita Daesh odeia Teerã xiita, e essa aproximação não foi bem vista, ainda mais que esse país foi algumas vezes alvo de atentados do “califado”.

Células terroristas, que não são necessariamente grandes campões de treinamento, sempre foram espalhadas pela Ásia Central e pelo interior da Rússia, e de difícil sondagem, podiam ser ativadas a qualquer momento. E com as sanções impostas pelo Ocidente, e com a necessidade de desfrutar de mão-de-obra braçal barata, a Rússia tem sido generosa com a entrada fácil de imigrantes do famigerado “Çu Grobá”, incluindo países vizinhos de maioria islâmica. A porta não podia estar mais escancarada.

Quer mais imbróglio? O Hamas expressou suas “condolências” pelo atentado em Krasnogorsk, e seus representantes já se encontraram várias vezes com altas autoridades russas, mesmo depois dos atentados de Sete de Outubro, sem contar que Putin parece ter virado “por default” um arauto da causa palestina, só pra fazer birra ao Cumpádi Uóxto. Lembremos que a “Resistência”, tão nacionalista quanto os Talibã e apoiada por Irã e Hezbollah (mesmo não sendo xiita como estes), é execrada pelo Daesh (quem não é? Rs). Uma das testemunhas, pelo menos a única desse gênero, teria ouvido os atiradores no teatro gritando “Pelo Artsakh!”, ou seja, o “Nagorno-Karabakh” armênio que foi totalmente reanexado pelo ditador azerbaijano Ilham Aliyev.

Nikol Pashinyan estaria buscando uma vingança porque os soldados “pacificadores” russos, enviados ao enclave após a guerra de setembro de 2020, teriam simplesmente observado de braços cruzados os armênios quase morrerem de fome após o bloqueio do corredor de Lachin por falsos ecoativistas? Certamente não: embora o secularismo seja empurrado goela abaixo dos azerbaijanos e as mulheres sejam proibidas de usar hijab e similares em público (caso quase único no islã moderno), nominalmente a maioria da população se identifica como xiita, sem ser realmente praticante. Além disso, o anúncio do Daesh do Khorasan também dizia que eles queriam “matar cristãos”, embora o Crocus City Hall não fosse exatamente a Canção Nova e o grupo Picnic não fosse exatamente o Diante do Trono... Junte perseguição à religião com xiismo nominal pra ver no que dá.

É isso por enquanto, e se eu achar algo relevante pra ser publicado à parte, retorno. O mais engraçado é que o valentão Putin, ao invés de utilizar suas habilidades de judô, parece estar escondido embaixo da mesa e não deu nenhuma declaração, sequer de condolências, e até a tarja no noticiário que costuma ter a indicação “V. PUTIN” está há horas marcada como “D. PESKOV”, com a mesma mensagem dizendo que o presidente “está acompanhando e recebendo todas as informações necessárias”. Este print é de 23h55 min, e inclusive a mensagem de baixo informa que o teto do auditório onde ocorreu o atentado desabou:



quinta-feira, 21 de março de 2024

Putin e seu peculiar democratismo


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/putin-democrata


Quando você ouvir algum coxinha reclamão dizendo que em todas as eleições “o brasileiro gosta de KHar na urna”, pense neste menina que, como um ato de protesto no primeiro dia (15 de março) das eleições fake que deram um ar de legitimidade à continuação da ditadura de Putin, literalmente “KHou na urna”, embora na verdade tivesse felizmente jogado apenas tinta dentro do receptáculo com as cédulas, rs. A tonta ainda por cima se deu ao trabalho de demorar ainda mais pra sair a fim de fotografar sua “épica KHda” e talvez postar em alguma rede social, dando tempo hábil pra que fosse docilmente levada por agentes de segurança e, agora, mantida presa e com um processo nas costas.

Isso só pra introduzir os dois seguintes trechos separados de uma coletiva de imprensa reunida logo após a divulgação dos “resultados” oficiais. “Imprensa” é forçar um pouco a barra, pois de todos os que fizeram perguntas, quase todos eram veículos estatais (TASS, Rossia 24), paraestatais (Mir, que pertence à CEI), alinhados com a ditadura (Izvéstia, Shot) ou chapa-branca autocensurados (Kommersant, NTV). Apenas os dois abaixo eram estrangeiros: os repórteres Keir Simmons, que trabalha pra americana NBC, e Guy Faulconbridge, veterano da Reuters em Moscou que fez a pergunta diretamente em russo e parece uma assombração reencarnada do Navalny. O coitado do primeiro teve que depender de uma intérprete, que traduziu a Putin a pergunta em inglês e depois traduziu baixinho a resposta em russo pro Keir.

Este, aliás, ganhou mais destaque internacional exatamente por ter feito a única pergunta realmente desafiadora (note-se a clara mudança de expressão do genocida, após seu conforto inicial) e porque fez Putin, após vários anos, finalmente pronunciar pública e claramente o nome de Aleksei Navalny. Ou só o sobrenome, já que o modo como ele se referiu ao opositor é relativamente grosseiro e distanciado na cultura russa: gospodín Naválny (literalmente “sr. Navalny”), construção não muito comum, exceto pra estrangeiros, e não Alekséi Anatólievich (prenome e patronímico), que é como um adulto chama o outro respeitosamente, nem mesmo Aleksei Navalny. Os dois trechos seguem abaixo, com a transcrição e a tradução das perguntas dos jornalistas e um resumo das respostas presidenciais:


Mr. President, excuse, a question in English, my colleague will translate. Keir Simmons for NBC News. Mr. President, journalist Evan Gershkovich spent this election in prison. Boris Nadezhdin, who opposes your war in Ukraine, wasn’t allowed to stand against you, and Aleksei Navalny died in one of your prisons during your campaign. Mr. President, is this what you call ‘democracy’? (Desculpe, sr. presidente, uma pergunta em inglês, minha colega vai traduzir. Keir Simmons da NBC News. Sr. presidente, o jornalista Evan Gershkovich passou esta eleição na prisão. Boris Nadezhdin, que se opõe a sua guerra na Ucrânia, foi proibido de concorrer contra o sr. e Aleksei Navalny morreu numa de suas prisões durante a campanha. Sr. presidente, é isso que o sr. chama de “democracia”?)

“É a vida.” Não estou inteirado do caso, mas a culpa por não fazer corretamente a campanha foi da própria equipe de Nadezhdin. A morte de Navalny foi uma fatalidade, mas isso não é incomum em outras prisões russas. Por acaso é diferente nos EUA, não é frequente? [A clássica falácia tu quoque...] Acredite ou não [é de se duvidar], mas alguns dias antes, alguns colegas [do Kremlin?] e alguns funcionários da prisão informaram que ele estaria sendo preparado pra uma troca com prisioneiros em países ocidentais. Eu concordei, mas houve o que houve. “Assim é a vida.” Eu considero nossas eleições democráticas, mas se pode pensar o mesmo dos EUA, onde recursos administrativos, inclusive a justiça, são usados pra tentar barrar um dos candidatos [nem é Trump!]? É uma vergonha pro mundo. [Lambe o veneno da boca.]


Агентство Рейтер. Может быть глупый вопрос, но тем не менее Макрон продолжает говорить о возможной отправке европейских войск на Украине [sic]. Это вопрос, который беспокоит народа: как вы считаете, полномасштабный конфликт между Россией и НАТО возможно [sic], и насколько вероятно [sic]? Спасибо. (Agência Reuters. Pode ser uma pergunta tonta, todavia, Macron continua falando sobre um possível envio de tropas europeias à Ucrânia. É uma questão que preocupa o povo: o sr. considera possível um conflito em larga escala entre a Rússia e a OTAN, e qual a probabilidade? Obrigado.)

Tudo é possível, mas isso traria a 3.ª Guerra Mundial a um passo de distância, o que não interessa a ninguém. Macron já reformulou várias vezes a natureza dessa intervenção, mas hoje não é algo que se diferencia de mercenários. Já há gente da OTAN lá, se ouve falar inglês, francês [provas?]. E já estão morrendo aos montes. A França tenta resolver seus problemas internos com uma retórica externa agressiva, mas ainda acho possível que ela ajude a resolver pacificamente o conflito. “Nem tudo está perdido.”


terça-feira, 19 de março de 2024

Analfabesta chupa-saco de ditador


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Esta imagem de um ucraniano criado com o design da família Simpson não tem nada a ver com o tema principal desta publicação. Achei por acaso buscando outras coisas no Google, e como não sabia o que fazer com ele, resolvi divulgar aqui, por achar legal e engraçado, rs. Mas ele tá mais ou menos ligado a algumas coisas que juntei aqui tudo de uma vez.


Pesquisando citações a meu nome que já foram feitas no Équis, achei este “xuíte” (como está na moda dizer) de uma época em que eu brevemente tive perfil próprio. Comentando na publicação de uma esquerdista universitária aleatória, fiz alguma alusão ao fato da Venezuela poder ser considerada uma ditadura, pois Nicolás Maduro não respeita as opiniões de críticos e opositores, muitas vezes prende quem o afronta e frauda todo o sistema eleitoral pra permitir sua reeleição eterna (como já era no tempo do patriarca Hugo Chávez). A moça discordou que o atual regime de Caracas fosse uma ditadura, mas o cara que você pode ver acima, no mesmo fio, resolveu ir além e soltou a referida pérola.

Primeiramente, nem vou reclamar da redação (problemas de acentuação gráfica e de concordância), porque isso é típico de qualquer gado ideológico. Segundo, ele sequer problematiza o termo “Revolução Bolivariana”, sendo que não houve revolução nenhuma, e sim uma reorganização tosca do capitalismo (nisso até os comunistas concordam), e a alusão a Simón Bolívar é puramente cerimonial e trapaceira. E terceiro, essas “eleições” e “referendos” que ele cita foram totalmente forjados, como toda comunidade internacional sabe. Ele recai no mesmo erro de certos liberais ou “capitalistas” que absolutizam o caráter eleitoral formal como indício de democracia, mas com o sinal revertido, ou seja, contra o liberalismo político e contra a própria democracia. Se pro rato do esgoto digital eu sou um “analfabeto político” (???), pra mim ele não passa de um analfabesta que acredita na primeira fake news que lhe agrada pelo celular!


Umas das principais avenidas de Vilnius, capital da Lituânia, tem estas placas indicando a distância em quilômetros até as capitais da Ucrânia e Belarus. Grazadeus, eles não insistem no erro dos países de idiomas latinos e transliteram Kyiv diretamente do alfabeto cirílico ucraniano, e não russo, que resultaria no agressivo “Kiev”. E o melhor: precisaram que Minsk está “ocupada pelo Kremlin”, já que Lukashenka não passa de uma marionete de Putin, rs.


Esses dias descobri a foto acima na página da Radio France Internationale, e li que foi tirada em 2014, 10 anos atrás, quando a ocupação russa estava organizando o referendo fake pra roubar a Crimeia da Ucrânia. Segundo a mentira, “Em 16 de março vamos escolher” entre uma península “nazista” (como até hoje o Kremlin chama a Revolução da Dignidade) e uma russificada. Em 10 anos de ocupação ilegal, os ativistas anti-Moscou mais perseguidos foram exatamente os tártaros da Crimeia, embora Putin dissesse que respeitaria todas as nacionalidades.

Pra piorar, está pensando em declarar “ilegal” a doação do território da RSFS da Rússia à RSS da Ucrânia, algo feito dentro dos quadros de um Estado que nem existe mais. Além disso, a própria Rússia assinou tratados, reconheceu a soberania da Ucrânia (que ainda por cima permitiu o uso do porto de Sevastópol pela Frota do Mar Negro russa) e pegou todas as suas armas nucleares exatamente com a Crimeia incluída dentro das fronteiras controladas por Kyiv. Você sabe que isso tem um nome exato, mas hoje prefiro o desenhar, editando como na verdade deveria ser aquela foto:




Pela primeira vez as “eleições” putinenciais na Rússia duraram três dias, nem preciso dizer que foi pra facilitar a fraude, embora a população seja bem menor do que a do Brasil, portanto tenha menos eleitores. Segundo especialistas, as fraudes nas eleições russas já ocorrem pelo menos desde 2007, mas como vemos nesta reportagem da Novaya Gazeta Europe, ela só foi escancarada pro mundo em 2018, quando as câmeras de circuito interno nas zonas eleitorais mostraram em som e imagem a maquinação dos funcionários pra forjarem os resultados a favor do poder. Comecei a editar esta publicação no domingo de manhã e terminei na segunda à noite pra ela sair na terça, e hoje já saíram os resultados oficiais pelos quais o genocida “ganhou” mais de 87% dos votos, passando de longe os 95% na Chechênia (onde há o subditador sanguinário Don-Don Kadyrov) e nas “novas regiões”, isto é, os territórios ocupados na Ucrânia onde os eleitores contaram com a presença de militares gentilmente armados.

Apesar de ações igualmente inéditas (embora em escala relativamente reduzida) como lançamento de coquetéis molotov em seções, despejo de tinta em urnas e máquinas, incêndios de cabines de votação e o ridículo flashmob “Meio-dia contra Putin”, convocado pela Viúva Naválnaia, os outros três postes não chegaram a 5% dos votos. Mesmo o adorado partido comunista obtinha 10, 15% em seus melhores tempos, mostrando como está clara a passagem da democracia autoritária pra ditadura unipessoal e oligocrática aberta. A imagem que selecionei acima, ainda de 2018, dá um gostinho de meme ao mostrar a funcionária de uma seção eleitoral do Daguestão, uma das regiões da Rússia mais pobres e com mais soldados mortos na Ucrânia, comemorando após depositar mil e oitocentas cédulas sozinha na urna: “Pronto, ganhamos as eleições!” Como diria Nando Moura: “Bibibi, Mitô, Mitô... Muuu presidente!”